Projeto Didático
I - Denominação: Brasil, mostra sua cara: diferentes
famílias, diferentes olhares.
II - Justificativa
A E.M.E.I. Guia Lopes, vem
utilizando nos últimos anos, como estratégia dos trabalhos pedagógicos
desenvolvidos, as figuras de afeto: o espantalho Tetelo e sua família formada
por Tetela, Kaue, Sofia e seus amigos que, oportunamente aparecem no âmbito escolar
para desencadear assuntos que nos pareçam necessários para a formação de nossas
crianças. Além de ser um grande facilitador para as aprendizagens, estreitam os
vínculos com nossas crianças, aproximando-nos ainda mais do universo infantil,
seus desejos e necessidades, conforme proposta pedagógica da unidade. (2012,
pag. 5).
Em 2011, junto com o novo amigo
espantalho, Azizi Abayomi,- Um príncipe africano, a equipe pedagógica e as crianças foram levadas
a uma viagem pela cultura africana e afro-brasileira e essa viagem fomentou a
descoberta das heranças deste povo na gênese de nossa cultura.
Tendo em vista todo o trabalho de
resgate de nossa história, bem como a promoção de ações voltadas à igualdade
racial na educação infantil, a equipe considerou de suma importância iniciar o
ano de 2012 com uma pesquisa para compor a ficha familiar e social dos alunos, com
o intuito de conhecer um pouco mais sobre as famílias atendidas. As questões
formuladas tiveram por objetivo complementar informações colhidas no ato da
matrícula e contemplam assuntos que até o momento foram considerados “tabus”
por nossa escola. Saber se nossa comunidade conhecia sua etnia, qual a
religião/crença familiar, se no ambiente em que a criança vive existem pessoas
alfabetizadas e se havia uma rotina saudável no dia a dia de nossas crianças
foram alguns temas escolhidos pelo grupo de professores. A tabulação dos resultados por grupo de
crianças apontou-nos caminhos para elaboração do projeto didático deste ano.
Algumas
constatações foram possíveis em relação aos temas propostos, conforme
demonstram os gráficos que seguem.
Histórico Escolar das crianças
matriculadas em 2012
Quadro de docentes - 2012
O
grande contingente de crianças e professoras novas sinalizou a urgência em
iniciarmos o ano retomando a história de vida das nossas figuras de afeto e
definir, através da observação das falas infantis e resultado das pesquisas, o
caminho a ser trilhado em 2012.
Diante
do êxito do projeto do ano passado, pareceu-nos evidente que sua continuidade e
ampliação são fundamentais para envolver adultos e crianças que não
participaram das atividades promovidas pela escola em questões importantes
sobre suas identidades.
AUTO DECLARAÇÃO DE COR/RAÇA NAS FICHAS
DE MATRÍCULAS
EXISTE NA FAMÍLIA ALGUM
AFRODESCENDENTE?
Comparando
o resultado entre os dois gráficos, é possível perceber uma contradição nas
informações prestadas pelas famílias, apesar da abordagem ser sido diferente no
momento da matrícula e no momento da entrevista no que se refere à cor/etnia.
Dois
pontos mereceram atenção especial dos professores. Num primeiro momento,
constatou-se que a classificação por cor gera, além da rejeição à próprias
características físicas, uma discussão antiga de que ninguém é preto, branco ou
amarelo. Por outro lado, quando foram questionados sobre a existência de um
afrodescendente na família, a grande maioria não sabia o que o termo
significava, provando desconhecimento ou negação a sua própria história. O que
revelou a importância de prosseguirmos com o nosso trabalho voltado ao
reconhecimento da importância da cultura africana e da necessidade de elevarmos
a autoestima de adultos e crianças afrodescendentes de nossa comunidade.
Entendemos que os resultados desta pesquisa refletem uma sociedade
preconceituosa e excludente que reproduz o mito da democracia racial e que a
escola deva ser um ponto de resistência às diversas formas de opressão.
Outro
desafio que deve ser enfrentado diz respeito ao aumento de matrículas de
crianças bolivianas, que têm seu
processo de socialização prejudicado, inicialmente, pela dificuldade de
comunicação(língua materna), além de não se sentirem incluídos na sociedade em
que vivem.
Constatamos
que encontram dificuldades em classificarem-se por cor e consequentemente de
reconhecerem sua própria etnia, num processo muito próximo de aculturação
vivido pelos negros no Brasil.
A FAMÍLIA TEM ALGUMA CRENÇA/RELIGIÃO?
A religião apareceu como um fator
determinante para a ampliação de nosso trabalho. É preciso promover ações que
discutam as crenças familiares e como elas afetam a participação das crianças e
das famílias nas atividades escolares. Diante deste quadro, promoveremos “Rodas
de Conversas” para afinar expectativas, necessidades e elucidar o caráter laico
do ensino público e o direito da criança em ter acesso ao que foi
historicamente construído pela humanidade. A Religião aparece com um dado
cultural que nos auxilia a contar a nossa própria história, ilustra e consolida
as lutas dos povos em busca de justiça e igualdade.
ONDE A CRIANÇA MORA
EXISTE ALGUÉM ALFABETIZADO?
QUAL A PROFISSÃO DA MÃE/ PAI?
|
As
questões relacionadas ao nível de escolaridade dos pais ou responsáveis e à
situação financeira das famílias veio desconstruir algumas verdades tidas como
absolutas em relação à comunidade que atendemos. Fica evidente que a
comunicação entre escola e família através da agenda é possível e que a não
participação nas festividades escolares possuem outro caráter que não o
financeiro. Estas questões devem ser objeto de trabalho nas reuniões de pais e
professores durante o ano.
Através
da análise das informações prestadas no momento das entrevistas, constatamos
que nossas crianças, em sua grande maioria, moram com seus pais biológicos e
que ambos trabalham.
NATURALIDADE DOS PAIS
Diante
destas informações, resolvemos construir um projeto que colocasse todas as
equipes e seus membros (novos e antigos) num mesmo patamar de informações e que
desse conta de trabalhar com a identidade de toda a comunidade escolar, em seu
sentido mais amplo.
Pareceu-nos
acertado instigar nossas crianças com uma história de amor entre o Prínicipe
Azizi Abayomi (negro) e a Sofia (branca).
O
casamento de Azizi Abyomi e Sofia trará de volta algumas questões já
trabalhadas durante o ano de 2011 e avançará, no sentido de abrir caminhos para
novos temas de interesse dos grupos.
Pretendemos
por meio deste projeto, conhecer melhor quem é essa família, quais seus
costumes, de onde vieram, como se formaram, onde e como vivem, quais suas
crenças mais relevantes, praticando com nossos alunos ações que valorizem as diferentes etnias e
culturas, para que incorporem atitudes de aceitação do outro em suas diferenças
e particularidades, negando todo e qualquer tipo de discriminação, seja
ela baseada em diferenças de cultura, raça, classe social, nacionalidade, idade
ou preferência sexual, entre outras tantas.
Todos esses questionamentos nos
remetem ao pensamento do antropólogo Darcy Ribeiro (1995), que corrobora com
nossas indagações e convicções:
“... nós,
brasileiros, nesse quadro, somos um povo em ser, impedido de sê-lo. Um povo
mestiço na carne e no espírito, já que aqui a mestiçagem jamais foi crime ou
pecado. Nela fomos feitos e ainda continuamos nos fazendo. Essa massa de
nativos oriundos da mestiçagem viveu por séculos sem consciência de si,
afundada na ninguendade. Assim foi até se definir como uma nova identidade
étnico-nacional, a de brasileiros. Um povo, até hoje, em ser, na dura busca de seu
destino. Olhando-os, ouvindo-os, é fácil perceber que são, de fato, uma nova
romanidade, uma romanidade tardia, mas melhor, porque lavada em sangue índio e
sangue negro” (p. 453)
“É de assinalar que,
apesar de feitos pela fusão de matrizes tão diferenciadas, os brasileiros são
hoje, um dos povos mais homogêneos lingüística e culturalmente e também um dos
mais integrados socialmente da Terra. Falam a mesma língua sem dialetos. Não
abrigam nenhum contingente reinvidicativo de autonomia, nem se apegam a nenhum
passado.” (p. 454)
III – Período de
realização
Durante todo o ano letivo de 2012.
IV - Objetivo geral
Caracterizar
a comunidade da E.M.E.I. Guia Lopes para melhor atende-la em suas expectativas,
necessidades e desejos, como forma eficaz de inseri-la no projeto Pedagógico da
Unidade Educacional, que prevê em suas ações o respeito à diversidade e
pluralidade cultural.
V - Objetivos
Específicos
-
Inserir como objeto de estudo no Projeto Pedagógico a pluralidade cultural
trazida pela comunidade.
-
Resgatar valores traduzidos através das crenças familiares.
-
Favorecer a troca entre os agentes culturais, objetivando a ampliação de
repertórios e ações afirmativas sobre cada uma delas.
-
Favorecer a identidade social, pessoal e individual de nossos educandos,
contribuindo para a construção de sua personalidade.
-
Envolver a comunidade na realização de eventos e buscar parcerias que possam
fomentar a construção do conhecimento.
-
Refinar o olhar dos educadores para questões que envolvem preconceito e
discriminação promovendo atitudes de tolerância envolvendo os adultos e as
crianças;
-
conhecer diversas estruturas familiares e respeitar a sua diversidade;
-
promover espaços de discussão sobre as várias etnias que compõe a comunidade
escolar e desvendar suas crenças e expectativas,
-
reconhecer e respeitar os diversos tipos de manifestações culturais, em
especial àquelas que traduzem a religiosidade de um povo;
-
traduzir o conceito da palavra “afrodescendente” e suas implicações através de
situações lúdicas que envolvam toda a comunidade escolar.
VI – Resultados
Esperados
Esperamos
que a criança:
-
identifique a sua estrutura familiar e se reconheça como parte integrante deste
grupo social;
-
valorize a história de sua família e respeite a pluralidade na constituição das
famílias de crianças de seu grupo/ escola;
-
participe de eventos culturais independentemente das crenças familiares,
-
reconheça atitudes preconceituosas e as formas possíveis de combatê-las;
-
atue ativamente na construção do projeto
didático de seu grupo;
-
conheça os direitos universais do homem, das crianças e dos idosos, assim como
seus deveres;
-
construa sua própria história de vida através dos temas trabalhados durante o
ano.
VII – Detalhamento de
Fases e Etapas
Sensibilização:
-
Carta de Azizi à Sofia resgatando a histórias dos espantalhos e sondando os
conhecimentos das crianças em relação ao casamento entre diferentes raças.
Ampliação de repertório
-
Apresentação às crianças e à comunidade das figuras de afeto e as histórias que
desencadeiam os projetos didáticos da escola;
-
Pesquisa e estudo sobre as diversas manifestações culturais que envolvem a
união entre duas pessoas;
-
Divulgação de curiosidades relativas aos rituais e cerimônias de união pelo
mundo;
-
Conheça a história dos profissionais da escola e a formação de suas respectivas
famílias
Envolvimento das
Famílias
-
Apresentação da proposta de trabalho para 2012, em continuidade ao projeto de
2011
-
Entrevista com os pais para caracterizar a comunidade atendida por nossa
escola;
-
Participação através do envio de fotos e histórias sobre a união dos parceiros
e as comemorações e festividades ligadas ao evento;
-
participação nos eventos temáticos promovidos pela escola.
-
participação, através do conselho de escola e associação de pais e mestres, na
construção e nos rumos do projeto didático de 2012.
VIII – Cronograma de
Atividades
FEVEREIRO/MARÇO
-
Dia da Família com exibição do filme “Construindo um mundo colorido”
-
Confecção de cartazes e murais que evidenciem as diferentes formas de união
entre parceiros;
-
Cartas das figuras de afeto que mobilizem as crianças na organização de uma
festa de casamento de Azizi e Sofia,
-
Problematizações sobre o casamento entre negros e brancos e como atender às
expectativas das culturas envolvidas nesta celebração;
-
elaboração de gráficos de caracterização do grupo como resultado às entrevistas
realizadas com as famílias, promovendo atividades em que as crianças se
classifiquem por cor/raça e o façam em relação aos seus pais ( trabalho na
próxima reunião de pais e professores)
-
relatórios de observação para estudo e análise da rotina vivida por crianças
negras em nossa escola e seu processo de socialização.
-
elaboração de um projeto didático coletivo que oriente o trabalho de todos os
funcionários da EMEI GUIA LOPES, em especial do quadro docente.
ABRIL / DEZEMBRO
-
construção de sequências didáticas que reflitam o interesse de cada grupo de alunos
e estejam de acordo com o quadro de referência da escola;
-
confecção dos portfólios individuais das crianças que registrem os caminhos
percorridos pelo projeto e os conhecimentos construídos no percurso;
-
confecção do Diário do Projeto;
-
construção e atualização constante das teias de conhecimento
-
promoção da festa junina temática com a participação das crianças e da
comunidade;
-
dia da família e outros eventos que ampliem a visão de nossas crianças sobre a
cultura africana, indígena, boliviana e oriental;
-
pesquisas e estudos através de leituras e exibição de filmes ou passeios que
incrementem o conhecimento dos professores em relação à temática coletiva do
projeto e àquelas que seu grupo de crianças determinar.
-
realização de festa de encerramento temática procurando parcerias para sua
realização.
-
utilização de todos os ambientes da escola( brinquedoteca, sala de registro,
sala de leitura, quadra – jogos e brincadeiras, espaços de artes e cozinha
experimental) e, quando possível, vinvular as atividades desenvolvidas com o
projeto da escola e de cada grupo de crianças;
-
participação em eventos externos e cursos oferecidos pela SME;
Referências
Bibliográficas
- Guia Lopes, EMEI. Proposta Pedagógica. São Paulo, 2012.
- Ministério da Educação A cor da cultura. Saberes e fazeres: Modos de Ver. Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho, 2006. Vol. 1.
- Ministério da Educação A cor da cultura. Saberes e fazeres: Modos de Sentir. Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho, 2006. Vol. 2.
- Ministério da Educação A cor da cultura. Saberes e fazeres: Modos de Interagir. Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho, 2006. Vol. 3.
- Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998. Vol. 2.
- Ribeiro, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995